Crónicas ao acaso. O que somos e para onde vamos?
Li o texto do Mário e depois as notas do António Colaço. Está lá tudo o que é essencial. Eu bem tinha desafiado a que alguém com unhas pegasse no tema de indagar sobre a razão de saber porque é que nós estamos metidos nisto, porque é que de repente nos entregámos a reavivar e a cultivar amizades e relacionamentos tão longínquos e que pareciam perdidos.
Fundamentadamente e com a erudição necessária, sem ser exagerada, aí temos nós a resposta, a hipótese 5, sem dúvida.
Agora o que é necessário é densificar o conceito e termos o engenho e a arte de lhe ir dando conteúdos concretos ao longo do tempo.
Estamos ao que parece no bom caminho para, revisitando a adolescência, podermos passar o resto do tempo que nos for concedido (não gosto muito da palavra velhice) com alguma sabedoria, saboreando a riqueza da amizade e da solidariedade, exercitando a mente.
Não há, pois, nada de substancial a acrescentar ao que magistralmente foi escrito pelo Mário.
Mas, ainda assim, deixem-me também discorrer um pouco sobre o tema.
Não tanto sobre a pergunta do Zé Duque, que já foi respondida, mas antes sobre os quatro parágrafos do colega não identificado.
Eu penso que ele teve a coragem de dizer o que outros pensam mas não dizem.
Com efeito, o que nos poderia motivar para ir aos encontros da Buraca nos moldes em que vinham ocorrendo? Não era muita coisa, na verdade.
Eram encontros baseados numa missa, muito participada, é certo, mesmo que alguns não tornassem a pôr os pés numa Igreja até ao Janeiro seguinte, e nuns breves momentos de convívio. No resto adeus até para o ano.
Porém cabe perguntar: E quanto a nós se alguém nos interpelar para qualificarmos o nosso Movimento o que diríamos? Quem somos nós que, de repente, aparecemos, vindos da tal lufa-lufa da vida com vontade de transformar/tomar o mundo, o nosso pequeno mundo? O que é que nos move? Será mesmo só aprender a envelhecer? Não deveremos questionarmo-nos se quem está um pouco mais afastado não terá toda a legitimidade para desconfiar de nós?
Que direito temos em nos arvorarmos em guias, em faróis, seja de quem for?
A resposta a estas questões não é neutra nem deve ser desprezada. Penso que deveremos debater o tema.
Emitindo uma modesta opinião, como é que eu nos vejo?
1. Como um Movimento (uso esta palavra por simplificação de exposição) que é apolítico, laico, não elitista e suficientemente elástico para nele caberem os que professam os mesmos valores.
Um movimento apolítico, no sentido em que não deve defender nenhuma cor política, que não interfere com as opções de cada um e que as aceita.
Um movimento laico, no sentido em que deixa para o domínio íntimo de cada um as suas opções religiosas, mas que não deixa de ter em conta que a fé cristã é um valor em que todos nos revemos. E não excluindo que nos nossos eventos e encontros possam caber actos religiosos, obviamente, de participação facultativa.
Um movimento não elitista, onde ninguém deve ser admitido ou excluído em função de profissão, condição social, estado civil, língua, religião, ou qualquer outro critério de idêntica natureza.
2. Relacionamento com a estrutura hierárquica da Igreja Diocesana. Penso que é de toda a importância que possamos ter a Igreja Diocesana como interlocutor privilegiado. Por razões óbvias que agora nem haveria espaço para desenvolver.
3. Como Movimento, significando que não queremos ficar parados no tempo nem no espaço, deveremos admitir evoluir para formas mais aperfeiçoadas de relacionamento e de estruturar a nossa existência colectiva.
Enfim. Penso que este debate terá que ser feito entre nós. Quem quer dar mais achegas e, sobretudo, discordar?
Um abraço
Silvério Mateus