Lembro-me de estares nas minhas mãos há um ano. Tinhas a forma de uma passa de uva. E fechei os olhos, pedi muito, e não disse a ninguém. Não acredito em superstições e, no entanto, é bem mais reconfortante viver com elas. Descobri-te noutro país. Primeiro em versão analógica: dois tracinhos. Depois em versão digital: "pregnant". E a partir daí não me lembro de mais nada. Quer dizer, lembro-me de ouvir o teu coraçãozinho a galope e de eu própria galopar de alegria; lembro-me de um "está tudo bem"; lembro-me de um "olhe ali a piloca, parabéns é um Francisco"; lembro-me de um "está sentado, não deu a volta"; lembro-me de um "vamos para a sala de operações"; lembro-me de um "já se vêem as perninhas", lembro-me de te ver passar - parecias um coelhinho - e de quando senti a tua cara macia na minha, com choro de gatinho. Tirando isso, escapou-me alguma coisa em 2011?
Que venha o próximo, com amor - deste verdadeiro - com honestidade e empreendedorismo! FELIZ 2012!!
Rita Colaço
(In, Facebook)
NR
Pe Anselmo Borges
In DN,Hoje
COMENTÁRIO
Enviei ao meu querido amigo Pe Anselmo o pequeno textinho "Eternidade Wireless" que adoptei como cartão de votos de Bom Ano!Acho que esta é a melhor resposta que podia esperar!
(Uma providencial Placa de Banda Larga vinda "não se sabe de onde.." aqui está a possibilitar partilhar mais esta tão oportuna quanto derradeira última reflexão em 2011!Onrigado, Pe Anselmo, e que continue, radioso, a brilhar nas adivinhadas nuvens de 2012!
antónio colaço
O TEMPO, A CRISE E A TRANSCENDÊNCIA
Enigma maior é o do tempo. Não o tempo meteorológico, mas aquele tempo que nos faz envelhecer e desaparecer, morrer os nossos pais e amigos, aqueles a quem mais queremos, que tudo devora e anula. Naquele seu abismo devorador, tudo se despenha, e torna-se como se não tivesse sido.
Já Santo Agostinho se abismava perante o enigma: o que é o tempo? Eu sei. Mas, se alguém me perguntar e eu quiser responder, já não sei. Porque o passado já não é, o futuro ainda não é, e o presente nunca se capta. Ah, se soubéssemos o que é o tempo, teríamos talvez descoberto o mistério de ser e do ser.
Mas é decisivo perceber que já os gregos apresentaram dois grupos semânticos fundamentais referentes ao conceito do tempo: chrónos, o tempo quantitativo e linear, para significar o fluir inelutável do tempo, sem qualquer possibilidade de intervenção humana, e kairós, incidindo sobre o tempo qualitativo, enquanto crise e enquanto oportunidade, para referir aqueles momentos no tempo em que o homem é convocado a uma intervenção decisiva. Chrónos devora os seus próprios filhos, segundo o mito; kairós é a oportunidade oferecida aos homens para a viragem e a conversão, e tem também a ver com aquela experiência de pontos no tempo tangidos pela eternidade - pense-se na experiência da beleza, do amor, da música, da criação -, quando o tempo na sua voragem fica suspenso e mesmo anulado. A experiência da transcendência!
No termo de mais um ano, de forma mais intensa, é o enigma do tempo que outra vez nos visita, na sua dupla face: o tempo cronológico (devorador) e o tempo kairológico (criador).
Quantos neste ano deixaram de cá estar! Um fim de ano qualquer também já cá não estaremos.
Entre tantos que partiram - partiram para onde? (no domínio da ultimidade, a linguagem atraiçoa-nos sempre)-, fica aí, gigante na luta pela liberdade, no humanismo, na fundura e na altura do pensar político, Vaclav Havel.
É iniludível o seu pensar precisamente sobre o tempo, a crise e a transcendência, como, entre nós, chamou a atenção Jorge Almeida Fernandes.
O que provoca a crise maior do nosso tempo senão a vivência do tempo apenas como imediatidade de sucesso, produção e consumo, esquecendo a dimensão moral, metafísica e trágica da existência? Lá estava Havel a avisar em 2007: "O Ocidente democrático perdeu a capacidade de proteger e cultivar os valores que não cessa de reclamar como seus. O pragmatismo dos políticos que querem ganhar futuras eleições, reconhecendo como autoridade suprema a vontade e os humores de uma caprichosa sociedade de consumo, impede esses mesmos políticos de assumirem a dimensão moral, metafísica e trágica da sua própria linha de acção. Uma nova divindade tende a suplantar o respeito pelo horizonte metafísico da vida humana: o ideal de uma produção e de um consumo incessantemente crescentes."
Tenho aqui repetido que, numa sociedade sem transcendência nem eternidade, o tempo não faz texto, pois tudo se dissolve no aqui e agora, na pura imediatidade. E isso, claro, tem consequências até na economia. Vaclav Havel constatou: "Estamos a viver na primeira civilização global", acrescentando: "Mas também vivemos na primeira civilização ateia, isto é, numa civilização que perdeu a conexão com o infinito e a eternidade." Consequências: uma civilização "obstinada em perseguir objectivos a curto prazo", "o que é importante é que um investimento seja rentável em 10 ou 15 anos" e não os efeitos dentro de 100 anos. Depois, "o orgulho", a hybris dos gregos. Por isso, suspeitava que a "nossa civilização caminha para a catástrofe", a não ser que cure "a sua miopia e a sua estúpida convicção de omnisciência, o seu desmesurado orgulho."
Achava que "o desenvolvimento desenfreado de uma civilização deliberadamente ateia deve alarmar-nos". Considerava-se apenas meio crente, mas com "a certeza de que tudo no mundo não é apenas efeito do acaso" e convencido de que "há um ser, uma força velada por um manto de mistério. E é o mistério que me fascina." Afinal, "a transcendência é a única alternativa à extinção."
Este é, muito provavelmente, o último post de 2011 e, se a tua imaginação quiser, o primeiro de 2012!
FICA COM AS DOZE BADALADAS DO MEIO DIA NO RELÓGIO DA TORRE, EM MAÇÃO.
SÃO DO MEIO DIA.
MAS DA MEIA NOITE PODEM SER!
Obrigado por seres amigo da animus!
Que o ânimo não nos falte em 2012!!!
antónio colaço
Um amigo propõe-se comprar-me o velho relógio da sala "evitando,assim,que em 2012 tenha horários a cumprir!"
Confesso,por estes dias sobe-me à cabeça uma indizível nostalgia por ver que a cada ano que passa mais isolado vou ficando com amigos que partem ou,simplesmente,gente que fez parte do meu património relacional.
Restam,então,as memórias,uma espécie de casa em que entramos se...mpre que queremos ...e lá estão ao dispor dos nossos incontáveis e diversificados apelos os tantos personagens com quem crescemos e,alguns,até,que moldaram o que somos.
Ás vezes parece tão pouco comparado com o frenesi desses dias que pareciam nunca ter fim...
E é para lá que caminho,também, a passos largos.
Meu caro amigo,se lhe vendo o meu relógio,vendo-lhe a alma da casa do Bisavô Luís e sem alma, sem tempo,que interessam horários para cumprir se deixo de cumprir-me até ao fim com a dignidade de quem acredita,ainda, no Outro Tempo por muito que veja este a encurtar-se cada vez mais?
Feliz 2012 para si e para os relógios como este que vai encontrar certamente numa qualquer loja de venda de horas a retalho
Ausentes de Mação pelo Natal ( o nosso Menino nasceu-nos na grutazinha do Montijo....) vamos, agora,finalmente, amassar meia dúzia de beiroas filhós, homenageando as rendilhadas alentejanas de minha saudosa Mãe.
Nesta homenagem acrescento,agora,o fabuloso texto de Pedro Mexia acabado de ler na Actual do Expresso.
De caras, um dos mais espantosos textos que li sobre "casas",eu, que ...para além de gostar de escrever sobre as ditas, empenhei (empenhámos)as economias para que não se perdessem as suas tantas e experienciadas alegrias.
Refiro-me à recuperaçaõ da casa do Bisavô Luis,em Mação,já que não pude acudir à casinha de terra batida que me viu nascer,em Gavião, e hoje mais não é que um parque para carros acolher....
Imperdível ler Pedro:"Uma casa é uma forma de identidade,uma permanência,uma ilusão de perpetuidade."
Obrigado,Pedro.
Meu caro
Hoje, dia 30, temos o Vítor Manuel Fernandes Diogo - telefone 962 351 533 - a completar mais um aniversário.
Um abraço
Adriano Afonso
Alunos de 1965
O que os anos nos fazem quando fazemos anos!
Como bónus, Victor, uma excelente fotografia do Mário Alves Roque, da tua/vossa cidade de Castelo Branco!!!
antónio colaço
Sem tempo para palavras.
Sem placa de banda larga - esquecida na grande cidade - acolhidos, por instantes, em porto de abrigo!
Algumas imagens do Inverno que se vive por Mação, no Vale das Árvores.
Obrigado.
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