Caro Colaço,
SOMOS TODOS COMPANHEIROS DA MESMA CAMINHADA
Perdoem-me os teólogos e os biblistas, clericais ou leigos, mas desta vez começo com uma pequena incursão nos mistérios insondáveis das Escrituras, porque um simples crente também tem o direito – atrever-me-ia mesmo a dizer, o dever - de se aventurar nos mistérios da Palavra. Como diz, no fecho do seu livro «Caroço de Azeitona», o não crente Erri De Luca, “Enquanto em cada dia me puder deter nem que seja sobre uma só linha daquelas escrituras, não perderei o espanto de estar vivo”. A referência a Erri De Luca não é inocente, pois ao referir o olhar de alguém “acampado fora dos muros da cidade”, é minha intenção cuidada não ferir sensibilidades nesta minha pequena incursão pelas Escrituras. Trata-se de uma espécie de socorro antecipado. Já agora, se me permitem, aconselho a sua leitura. Nesta caminhada da ANIMUS ou melhor, daqueles que através desse espaço se foram e vão reencontrando, tenho consciência da grande amálgama no que se refere à relação de cada um com as Escrituras, com a sua experiência de fé ou ausência dela, com as estruturas e com as diferentes manifestações e práticas. Foi também essa diversidade e amálgama de experiências que me atraíu e me fez sentir acolhido. Mas voltemos ao que aqui me trouxe.
Devo dizer que tenho alguma simpatia pela expressão bíblica «Deus de Abraão». Primeiro, porque nos transmite a ideia de um legado que foi uma construção colectiva de muitos que nos antecederam, transporta consigo uma memória que nos dá uma outra consciência da nossa relação com o mundo e a comunidade, seja ela qual for. Segundo, porque nos dá a ideia de um Deus próximo, companheiro, caminhando ao nosso lado, mas sem nunca pretender substituir-nos na responsabilidade das opções. Gosto, talvez porque me sinto confortado, de um Deus que está próximo, que acompanha. Terceiro, porque o que a expressão acentua a importância do processo – a caminhada – e não o final, a terra prometida. O Deus de alguém que faz caminhada connosco e que sabe que nunca chegará à terra prometida. O que realmente importa é a consciência que vamos adquirindo ao longo do processo e o que coletivamente vamos construindo, independentemente de sabermos ou não onde fica essa terra prometida e se lá chegaremos. Não deixa de ser curioso que o lugar do grande encontro seja precisamente o deserto. A verdadeira motivação – ao contrário do que seria suposto pensarmos – não é a terra prometida, mas o deserto, porque é nesse lugar de encontro que somos postos à prova, ou seja, que a nossa relação com o outro é testada, ganha forma e se solidifica.
Imagino que neste momento a vossa paciência esteja quase no limite sem saberem ao certo ao que venho. Satisfazendo a vossa curiosidade e evitando o risco de esgotar a vossa bondosa paciência, digo-vos que o que aqui me traz é o nosso próximo grande encontro em Alcains, agendado para 18 de Maio. Poderia terminar este meu texto e deixar à imaginação de cada um as ilações do atrás escrito e sua relação com o referido encontro. Sem pretender vos privar de tal exercício, deixo-vos contudo mais algumas achegas. O que realmente me importa, nestes encontros e nos espaços onde- bem ou mal, com mais ou menos arrufos, desânimos, tristezas e muitas alegrias – vamos partilhando o que nos vai na alma ou o que nos dá na real gana, é o percurso que vou fazendo com alguns dos colegas e amigos que reencontrei.
Não me interessa uma qualquer terra prometida, anunciada ou desejada por muitos. É assunto que não me preocupa, já que, para mim, o essencial está na caminhada e no que vou (vamos) sendo capaz(es) de construir. E não tenho a pretensão, nem tão pouco força e a disponibilidade, de a todas as solicitações responder, pois é natural que me sinta mais próximo de uns do que de outros. Quanto às razões todos as adivinham. Contudo, e aí está a importância da memória coletiva, serei sempre devedor a todos aqueles que me possibilitaram a oportunidade do reencontro e que, antes de mim, também eles fizeram uma caminhada e que me permitiram que hoje também eu seja companheiro. Somos companheiros de uma caminhada independentemente de qual será o seu fim. E será que algum dia terá fim?! Ou não será aí, precisamente no precurso, que radicará a nossa esperança?! O importante é que saibamos ver no outro o pequeno gesto que faz dele «companheiro de Emaús», ou seja, companheiros dessa mesma caminhada.
Como alguns têm defendido, entre os quais o Mário Pissarra, o importante são os encontros que vão tendo lugar. E a Animus tem cumprido o seu papel. E por isso estamos vivos.
Lá estarei em Alcains e já com água na boca pelas papas de carolo, que adoro. O programa promete. Espero aí encontrar muitos dos que não encontrei em Portalegre. Aliás da Lousa a Alcains, caminho que fiz muitas vezes a pé, é apenas um saltinho. E na Lousa lá estarei para as festas da padroeira, Nossa Senhora dos Altos Céus.
Para finalizar um apelo. Em Portalegre alguém no final me cumprimentou por ter sido do ano do Chico Vaz. No meio de conversas cruzadas e de despedidas, não guardei o nome, apenas sabendo que conhece o Chico Vaz e que este viverá para os lados de Viana do Castelo. Se um deles ler estas linhas, fique sabendo que gostaria imenso de encontrar o Chico Vaz em Alcains. Já agora, mais umas dicas: o Chico Vaz, irmão de um colega mais velho, o Luís Vaz (excelente guarda-redes, do ano do Mingacho?) eram originários da Sobreira Formosa.
Para uma próxima oportunidade fica a promessa de um texto sobre a minha passagem por Alcains e o quanto ela foi marcante na minha vida. Esta promessa é também um desafio para outros companheiros.
Deste vosso companheiro que tem como lema ser feliz em seara de gente.
Um grande abraço.
José Centeio.
NR
LINDO.Luminosa,como sempre, a tua Palavra*, Mestre!
Obrigado.
antónio colaço
*Palavra, disse bem.Percebe-se de Quem vem!
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