Muito do que conhecemos chegou-nos por ouvir dizer. Acontece, porém, que com algumas coisas de que nos falam apaixonadamente despertam em nós não apenas o desejo de as conhecer, mas a curiosidade suscita a simpatia. Por vezes, essa simpatia transforma-se mesmo em amor - paixão. Sim. O amor apaixonado não é apenas um estado emocional que se centra em pessoas. O seu objecto pode ser muito variado. Um lugar ou um projecto, por exemplo.
Conheci o João Chambel no nosso memorável encontro anual de Gavião. Aliás, foi ele o seu grande suporte. Desde aí a nossa amizade foi crescendo e fui escutando o seu entusiasmo por um mítico moinho em recuperação pelas plantas aromáticas e pelos chás. Fui aprendendo muito com ele sobre esta sua paixão. Sentia o peso das pedras da reconstrução e os aromas perfumados das suas plantas. Sem dar por isso, acariciava um projecto – sonho que, paulatinamente, ia ganhando forma. Dos cuidados da cultura biológica à higiene da secagem, da selecção das folhas ao ritual do consumo, dos pormenores do logotipo, da armazenagem (pacotes e latas) ao escoamento comercial fui companheiro e assistente no parto. Com agrado e alegria. Sempre incentivei o João e ele esteve sempre presente com a sua generosidade, oferecendo o seu chá nos nossos encontros. Foi assim este ano e em anos anteriores.
Mas …
Chegou, finalmente, a possibilidade de conhecer este local que há muito povoava o meu imaginário. Uma passagem do conhecimento por ouvir dizer de que nos fala B. Espinosa para um conhecimento contacto de que nos fala B. Russel. Na minha mente, o local, apesar das descrições idílicas e apaixonadas do João, não descolava da planície Alentejana e, por mais fresca que a supusesse, não se desvinculava d e alguma aridez. Foi um choque. Sabia que havia um moinho e por conseguinte, água, mas nunca a havia imaginado aos socalcos e tão frondosa. Um local com água em abundância, muita humidade, frondoso e luxuriante, enriquecido pela envolvência da erva-cidreira, do tomilho-limão, da hortelã-pimenta, dos orégãos, da lúcia-lima, etc., e seus aromas.
Um dia inesquecível com sabor ao regresso às origens. Ir à fonte para fazer chás e para cozinhar o almoço, descalçar-me e sentar-me num tronco para lavar a louça, sentar-me no alpendre do moinho e ouvir a água a correr, tropeçar em cada canto com os olhos nos ninhos de carriça e repousar no silêncio duma natureza paradisíaca é, deveras, um sonho ao alcance nos subúrbios da Atalaia do Gavião!
Ao final da tarde veio visitar este empreendimento e tomar chá connosco o Senhor Bispo de Portalegre e Castelo Branco, Dom Antonino que estava a realizar a visita pastoral ao Gavião. Faziam parte dos visitantes o pároco, um simpático sacerdote romeno e o presidente e secretário da junta de Gavião – Atalaia. A animada conversa teve um tema único: os chás. Provaram-se vários naquele local e ambiente ímpar e numa oferta seguiu a possibilidade de os apreciar em casa. Poderei gabar-me de ser um dos poucos que já bebeu chá feito por um bispo. O João convidou o Senhor Bispo a cortar a planta e fazer o chá.
Escolheu a lúcia-lima.
Obrigado João por este dia.
Mário Pissarra
P.S: o Senhor Bispo disse-me que o Sr. Padre Castanheira já o havia informado da oferta dos antigos alunos.
SITIOS AMIGOS
http://sabordabeira.blogspot.com
http://animo.blogs.sapo.pt
http://aaavd-armindocachada.blogspot.com
http://aaacarmelitas.blogspot.com/
http://irmaosol.blogs.sapo.pt
http://arm-smbn.blogspot.com/