Sábado, 4 de Junho de 2016
PRECISAMOS DESTAS ENERGIAS escreve Manuel Domingues

Caro Colaço

 
Mesmo escrevendo muito corro o risco de não transmitir o que realmente sinto. 
Tento com pouco.
Obrigado pelo empenho, humanidade, gratuitidade e transparência. Obrigadooo!!!
 
Nestes tempos em que se enviam jovens para universidades por vezes castradoras de sabedoria, carregadoras de informação, conhecimentos devidamente decretados por outros formados, precisamos destas energias para crescermos.
 
Abraço
Manuel Domingues

NR
Obrigado, Manel.
antónio colaço

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publicado por animo às 00:28
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OLÁ, PROFESSORES . A PEDAGOGIA DO SEMINÁRIO o texto do António Henriques

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(NOTA. O António Henriques quis dar uma ajuda dada a dificil leitura da edição do "Olá, Professores".Aqui fica o texto original aguardando, então, que o Joaquim Mendeiros possa disponibilzar os restantes textos.Obrigado, António.ac)

A pedagogia do Seminário

A minha experiência

 

As minhas palavras não passam de um testemunho pessoal, sem querer chegar a uma tese científica, embora seja verdade que as conclusões sociológicas partem da análise de muitos casos individuais, e eu conheço outros colegas e amigos a pensar e sentir como eu.

A minha experiência resulta de uma vivência de 12 anos, entre 51 e 63, nos três seminários que a diocese tinha então. E começo por dizer que olho para esses anos com muito agrado e com a noção de que foram eles que alteraram por completo o rumo da minha vida.

Natural de Sobreira Formosa, ao acabar a escola primária, o meu futuro seria ser carpinteiro como o pai ou ser marçano, para onde o pai ainda tentou levar-me, embora sem resultado. Durante as férias, falou-se na igreja, durante a missa dominical, da possibilidade de ir estudar para o Seminário. “Estudar” foi a palavra mágica que tudo revolucionou, eu que à partida não o podia fazer por estar longe do liceu e por a família não suportar tal despesa.

 

Assim começou a aventura… Fui para o Gavião durante dois anos e logo ali fiquei pasmado com a nova vida. Poucos meses antes, tinha levado 24 reguadas bem contadas pelo professor da 4ª classe por andar a jogar à bola durante o recreio do almoço com uma bolinha de cortiça! No Seminário, até jogava com uma bola de “cautchu” (assim se dizia então!), tinha muitos amigos e ainda mais jogos, como a “barra-bandeira”. Estudar era fácil, a comida a hora certa, sem grande riqueza, mas a de casa também não era de gente abastada. A relação com os professores também era positiva e muito diferente dos rigores da escola primária… E rezar numa dimensão de mistério também se coadunava com a minha vivência de criança.

 

Em Alcains, de fatinho preto e chapéu (coisa que sempre detestei, mas tinha de ser!), também me aconteceram coisas interessantes. Tínhamos um guarda-pó para o dia-a-dia com o qual jogávamos e os padres mais novos também jogavam. Ao estilo inglês, estudávamos uma hora antes do pequeno-almoço e neste comíamos de prato (feijão-frade e sardinhas e carapaus fritos, etc.), sendo o almoço só às duas da tarde.

Os professores eram pessoas normalíssimas, uns melhores que outros, mas nada que destoasse nos ambientes do ensino (falo com a experiência de 36 anos a leccionar em diferentes níveis de escolas públicas e particulares). Estudávamos em salas enormes, já com a vigilância de um monitor mais velho, ganhando hábitos de trabalho. Era uma alegria chegar às aulas com os trabalhos de casa feitos. E os hábitos de trabalho vão-se adquirindo com a repetição de gestos, com a vida toda organizada de manhã à noite. Não sei se “andar na forma”, dois a dois consoante a altura, também fazia parte da receita!...

 

E como os professores nos incentivavam, já então ia fazendo poesia e escrevendo textos para uma “Revista” manuscrita pelos alunos. E havia sessões solenes para apresentar os nossos trabalhos e outros, cultivando a arte de dizer. Experimentei tocar órgão, toquei rabecão com o apoio do Sr. P. Horácio, vejam bem que boas oportunidades me iam dando. Sempre senti esta liberdade de espírito e tenho mesmo a impressão de os padres não nos oprimirem, respeitando as nossas iniciativas. Que espectáculo aquelas mascaradas processionais em que se fazia o “Enterro do Inverno”, por exemplo. E já em Portalegre, outras mascaradas no Carnaval e muitas sessões ao serão disputavam a nossa criatividade e animavam os nossos dias.

 

A promoção da cultura estava implícita em pormenores como termos no sexto ano compêndios de Literatura Grega e Romana em francês, estudarmos Patrologia no 9.º ano por um livro em castelhano e em Teologia muitos compêndios serem em latim. Curiosamente, os testes de Patrologia eram feitos em latim, exigências do Sr. P. Freire, estudante de Clássicas (e mais tarde lente) na Universidade de Coimbra e extremamente exigente também nos estudos de Literatura.

Recordo bem as apresentações teatrais, já com cenários e encenações muito a sério, sob a batuta do querido Sr. P. Sousa, em que o anfiteatro, com primeiro balcão e tudo, se enchia com gentes de Portalegre. Acompanhavam o teatro os concertos musicais dirigidos pelo Sr. Cón. Brás Jorge (acabado de falecer) e depois pelo Sr. P. Milheiro. Até nos deslocávamos a Abrantes, ao Cineteatro, para repetir o espectáculo.

Lembro ainda os muitos trabalhos de carácter literário e mesmo a incursão pela cultura cinematográfica que nos eram propiciados em Portalegre e na frequência de cursos em Fátima e outros lugares. Tínhamos mesmo a responsabilidade de uma “Página Literária” mensal no jornal de Castelo de Vide, cujo nome já me falta. Apoios e estímulos dados pelos Srs. Dr. Marcelino e P. Milheiro…

 

A formação religiosa decorria de toda uma envolvência comunitária, com orações a várias horas do dia, antes das refeições, com pequenas palestras a incutir o respeito por Deus e o amor pelo próximo, com a Missa, com o exame de consciência ao final do dia, com as conversas do Director Espiritual, o que, a meu ver, fazia que a nossa relação com os superiores se processasse em clima de muita aceitação mútua, pois eles também sentiam que tinham de dar exemplo... As saídas para a cidade a visitar doentes e pobres eram outro meio de nos inserirmos na comunidade real, coisa inédita naquele tempo…

Alguns castigos (como ficar de joelhos uns minutos enquanto os colegas comiam ou as achegas de uma varinha usada por um ou dois professores) não desfazem a impressão generalizada de termos sido educados com bondade e respeito, tendo em atenção os rigores da educação na época.

Em muitas conversas com ex-seminaristas de outras dioceses, apercebi-me que ali nós tínhamos sido uns privilegiados pelo tratamento humano com que fomos educados, ainda pouco comum naquele tempo. Em resumo, trago para aqui o que há um ano escreveu no blogue “Animus60” o Mário Pissarra: «tive a sorte de frequentar um seminário bem humano, aberto e bastante arejado».

 

António Henriques

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