Meu Caro António Colaço,
Ontem diverti-me tanto a escrever a minha primeira crónica
dos "Episódios..." que até me esqueci de a anexar.
Quem fez mais um ano foi o Silvério e, como diria o Manel Carrilho,
quem ficou com ele, fui eu! Ou, como tu dirias, "O que os anos nos
fazem, mesmo quando são os outros a fazer anos!
Bem, desta vez não me esqueço do Anexo.
Então, vá, aí vão os "Episódios..."
Abs
Mendeiros
Quousque tandem, João Peres, abutere patientia nostra?
Dir-me-ão que uma coisa não impede a outra. Mas então fico à espera de novas sobre a formalização e não se deixe morrer o debate, enquanto vamos recordando o passado…
Mas, meus caros, não esqueçam os pendentes…
Apesar disso, não viro a cara a um bom desafio. É claro que o desafio tem de ser bom e tem de haver matéria para tratar. E tem que ser divertido, senão…nada feito.
Neste caso, é tudo bom e divertido e, por isso, vamos a isto.
Na onda do 14 de Maio – Um presente para o nosso passado –, fui ao sótão das minhas saudades repescar memórias do meu tempo. Vou contá-las na animus, nos “Episódios…”. Serão coisas leves, muito leves, para partilhar com todos. Nesta primeira crónica, fui recuar um pouco mais e comecei mesmo pelo “início do meu princípio”. Acabei por terminar no fim… Curioso, psicanaliticamente, curioso..
Creio que outros se irão rever no que vou contar em
Naquele dia de Maio de 1958, minha mãe, meu pai e eu tivemos a conversa mais aberta e democrática das nossas vidas, porventura, a única aberta e a única democrática, em conjunto, sobre o meu futuro. Foi no quarto da frente, como chamávamos à sala da nossa casa, na Comenda.
O assunto era sério. Meu pai deixou tudo por minha conta, minha mãe quase tudo, mas ambos sabiam das minhas reticências...
Eu queria ser professor, quando fosse grande. Sabia de cor os nomes dos rios, das serras, das vias férreas, reinados, ossos do corpo humano, eu sei lá, conjunções, preposições (a, ante, após, até, com, contra…). Também queria ser um grande jogador de futebol, na altura, ainda sem os constrangimentos da miopia que, mais tarde, iria condicionar o meu rendimento em campo, entusiasmado com Pélé, já vedeta, sonhando jogar ao seu lado na famosa equipa vencedora do mundial da Suécia (Gilmar; Djalma Santos, Bellini e Nilton Santos; Zito e Orlando; Garrincha, Didi, Vává, Pélé e Zagalo).
Pelo mundo eclesiástico, tinha-me deliciado com o violino e a música do P.e Horácio, pároco da Comenda nos meus oito ou nove anos, e andava encantado com a bicicleta do P.e João Gabriel Monteiro com um conta-quilómetros incorporado, mas as minhas dúvidas entroncavam sempre no mesmo pequeno grande pormenor: os padres não podiam casar, e isso deixava-me verdadeiramente desapaixonado pela ideia de ir estudar para padre.
Minha mãe, depois de algum tempo de conversa séria, muito séria mesmo, diz-me com o sentido prático que as mães têm:
- J(o)aquim, tu é que sabes, mas não achas que ainda és muito novo para pensares em cachopas?
E foi assim que encontrei a chave do problema e rumei a Gavião, cinco meses depois, liberto daquelas velhas e antiquadas ideias de que os padres não podiam casar.
Passei por Alcains e Portalegre. Por lá andei cerca de sete anos, até ser devolvido ao mundo a que, afinal, sempre havia pertencido. Como, aliás, eu imaginava.
Quando naquele dia de Maio de 1965, em Portalegre, me sentei na camioneta para rumar à Comenda, recordei a conversa do outro Maio, o de 1958.
Dei comigo a pensar como tinha sido eu próprio, naquela altura, a tomar a decisão de ir estudar para o seminário, sendo apenas um simples intelectual de instrução primária e agora, com dezassete anos, tu cá tu lá com os filósofos (Até com o famoso imperativo categórico de Kant!), ninguém me perguntou nada…
Como foi possível, interrogava-me eu?
De novo, um clic, e lá veio a luz que abriu o meu espírito.
Com “altos” conhecimentos de filosofia, eu já tendia a aceitar que, quanto mais sabia, mais sabia que nada sabia e isso levou-me a não estranhar que alguém mais culto e mais sábio, soubesse mais do que eu e decidisse por mim. Uma espécie de “escuta lá rapaz, quem sabe de ti, somos nós, como deves saber”.
Além disso, eu tinha na ponta da língua o princípio evangélico de que muitos eram os chamados, mas poucos os escolhidos, muito diferente de agora, pois são tão poucos os chamados que nem há por onde escolher… e foi isso que me reconfortou.
Recostei-me no assento da camioneta da Setubalense, fechei os olhos e dormi profundamente…sobre o assunto.Lembro-me, perfeitamente… como se fosse hoje.
Joaquim Mendeiros
Post- Scriptum: Maio voltará a estar no meu caminho, dia 14, na Comenda, digo, no Gavião, porque há sempre um reencontro à nossa espera!!!!!
NR
E aqui está, meu caro Joaquim, a imagem que faltava.É claro que nem nos passa pela cabeça duvidar de que, por de trás de um ex-filósofo, viajando a "dormir sobre o assunto", na Setubalense, está sempre uma grande "cachopa", perdão, MULHER!!
Venha o próximo "episódio" que tomo a liberdade de imaginar se situa no Largo principal da Comenda, Joaquim, ainda meio ensonado, esfregando os olhos, estupefacto pela recepção do mulherio da Comenda, assomando à porta da "camionheta", e num triunfal gesto erguendo ambos os braços, proclamando:
-CACHOPAS DA MINHA QUERIDA COMENDA, CHEGUEI!Encomendo-me todo a vós!!!
antónio colaço
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