Meu Caro,
Percebi que afinal também "sofres" com e pela Selecção "Nacional" de Futebol.
Acabei de escrever um texto, polémico, acredito, sobre as Selecções ditas "Nacionais".
Faço questão de o enviar antes de saber se os "nossos" rapazes do pontapé na bola se apuram para outras batalhas e se ganham algum caneco.
Quero que cheguem o mais longe possível e que ganhem tudo, mas não lhes chamem Selecção "Nacional".
Quando muito, serão a Selecção da Federação Portuguesa de Futebol. Que até pode ter estatuto de utilidade pública , penso que lho retiraram e não sei se lho devolveram, mas o que mais há são Associações com esse estatuto e não representam a Nação.
Um abraço.
Tó Manel
RESTOS DE CORPORATIVISMO
Devo começar por dizer que o meu desporto preferido é o futebol,
que na juventude, até aos 30, o pratiquei entusiasticamente em diversos
clubes regionais, que sou simpatizante e sócio do CFB, não, não é o Clube
Futebol Barcelona, é o Clube de Futebol “OS BELENENSES”
Contudo, nada do que foi dito me impede de considerar um abuso o
tratamento que a denominada selecção “nacional” de futebol tem merecido
da imprensa e das autoridades oficiais. Chamam Selecção “Nacional” a um
grupo de rapazes habilidosos no chuto na bola que fazem disso a sua
profissão, ganhando milhões de euros mensalmente. Dizem que representa
a Nação portuguesa. Por isso lhe chamam “nacional”. Ora, eu tenho, há
muito, para mim, que para haver representação “nacional” terá que haver
um acto de vontade do representado, da Nação. O Presidente da República
representa Portugal porque os portugueses, votando, lhe concederam a
representação. O mesmo se passa com os deputados da Assembleia da
República e, indirectamente, com o Governo. O mesmo acontece com o
presidente da Câmara e com os vereadores que representam o seu concelho
porque o povo do concelho, votando, lhes concedeu essa faculdade. Quem
é que escolheu os jogadores? Que se saiba, foi o treinador Paulo Bento. E
quem escolheu Paulo Bento? O presidente/direcção da Federação
Portuguesa de Futebol. Quem escolheu o presidente/direcção da Federação
de Futebol? As Associações Distritais futebol/ Clubes de Futebol. Estas
emanam da vontade dos clubes associados cujos corpos directivos resultam
da escolha dos associados dos clubes. Assim, não é possível chamar
“nacional” à selecção. Algum dos leitores foi ouvido? Com isto não quero
dizer que não haja empatia entre os portugueses e aqueles jogadores. É
óbvio que há e é natural. Afinal, os jogadores são portugueses. São dos
nossos e todos gostamos que os nossos ganhem e se portem bem. Ainda
por cima no estrangeiro. Mas, nada de confusões. Não representam a
Nação.
Pior ainda, os regulamentos da FIFA e da FPF impedem os clubes de
recorrerem aos Tribunais “Nacionais” para dirimirem os seus conflitos.
Então onde está o carácter “nacional” da actividade do chuto na bola? O
futebol está acima, ou para além do Direito “nacional”? Os clubes nem
sequer podem recorrer aos Tribunais constituídos pelo poder político eleito
pelos cidadãos? Isto significa que a organização desportiva futebolística,
nacional e internacionalmente, se coloca acima do poder político eleito
pelas “nações”. E querem chamar “nacional” à selecção? (É óbvio que não
é apenas o caso português. Mas com os outros posso eu bem.)
Vou mais longe. Considero um abuso a entoação do Hino Nacional e
o desfraldar da bandeira das quinas antes, durante e depois dos jogos.
Infelizmente os políticos nacionais colam-se ao fenómeno futebolístico,
como se colam a outros, para aparecerem na imprensa. Então se há vitórias,
é um ver se te avias!
Dizem-me que é uma forma de os portugueses mostraram o seu
patriotismo. Para mim, patriotismo não é desfraldar bandeiras por tudo
quanto é sítio, não é berrar o Hino Nacional com a cabeça encharcada em
cerveja em qualquer campo de futebol ou perante qualquer televisor. Ser
patriota é trabalhar e estudar todos os dias, é pagar atempadamente os
impostos, é colocar o lixo nos contentores, é limpar a floresta, é cumprir o
Código da Estrada, é participar na discussão da coisa pública, é dar o
contributo individual para o bem-estar colectivo… (Também passa por
demonstrar civismo, educação e respeito pelo adversário nos campos de
futebol.) Ser patriota implica um esforço paciente, persistente e continuado,
pouco compatível com o folclore do hino e das bandeiras.
No tempo da “outra senhora” (fascismo) costumava-se criticar o
regime acusando-o de promover uma cultura limitada aos três FFF: Fátima,
Futebol e Fado. E hoje, como é? A adesão às peregrinações a Fátima bate
todos os recordes, o Fado voltou a estar na moda e do Futebol, nem se fala.
Falando do tempo da “outra senhora”, esta coisa de ser a Federação
de Futebol a considerar-se representante “nacional” faz-me lembrar o
sistema das corporações, marca de água do regime salazarista. O cidadão
individual quase não era considerado porque o que era importante era a
existência integrada num grupo, num corpo económico, social, cultural,
desportivo ou familiar chamado corporação. Até nem havia ministério do
Trabalho, chamava-se das Corporações. Era a influência do fascismo
italiano que Salazar adoptou em Portugal.
Cheira-me que, verdadeiramente, o regime corporativista ainda por aí
vigora em muitos aspectos.
Como presumo que a maior parte dos leitores não devem concordar
comigo nesta matéria e para demonstrar que apesar da crítica não desejo
qualquer infelicidade àquele grupo de rapazes da bola, apresento duas
imagens do futebol inglês de finais do século XVIII, que espero nunca lhes
sirva de modelo.
António Manuel Martins da Silva
Vales, 15 de Junho 2012
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