Manuel Luís
Confesso que foi com um misto de alegria e ansiedade que ontem te visitei no hospital de cuidados continuados, onde há longo tempo vives. Há mais de dois meses que não te via e não sabia que surpresas ia encontrar. Para mim, a Páscoa não teria sentido sem este descarregar de consciência visitando um amigo que há muito sofre o estigma da doença, que o retirou do convívio social e o imobiliza numa cama.
Ainda bem que resisti ao pachorrento deslizar dos dias e ganhei coragem para gastar uns momentos com quem não tem a possibilidade de vir ao meu encontro. Os teus olhos brilharam quando notaste a minha presença no silêncio do teu quarto 110. Com uma muito fraca aparência física, a tua mente continua brilhante e até consegues dizer antes de mim o nome dos amigos ou terminar uma frase quando eu não tenho facilidade em encontrar a palavra exacta. E lá vêm os sorrisos contidos, os elogios doces à nossa amizade de muitos anos, entrecortada por esquecimentos que não romperam as relações, felizmente.
Nestes momentos, aproveito para te colocar ao corrente de todas as novidades, falar dos amigos comuns, das doenças que nos afectam, dos encontros (poucos…) que vamos tendo, de histórias que vivemos em conjunto e que nos deixam um laivo de alegria terna: «Nós fizemos muitas coisas lindas… Foi uma vida cheia de boas e bonitas recordações!», dizes tu, repetindo algumas vezes as palavras até eu entender o que dizes na tua entaramelada pronúncia.
Também falo das lutas perdidas, dos que não consegui levar até ti na esperança de te encher mais os dias. Eu sei que tens familiares e um ou outro amigo que diariamente te visitam, mas a cama de um hospital, sobretudo quando sentimos que é a tua última morada nesta terra, faz imaginar cruelmente a “vivência de semana santa” que tu suportas embora com tanta paz, sem rancores nem invejas: «Estou bem aqui, em casa não ia ter estes apoios…».
Passada uma meia-hora, noto que já estás cansado. Ainda falei do encontro de Linda-a-Pastora e do próximo encontro em Abrantes a 16 de Maio. Depois te contarei como foi. Só rezo para que os teus sofrimentos se transformem em Páscoa de ressurreição, criando entre nós todos aqueles laços de vida que dão mais sabor aos nossos dias.
antónnio henriques
SITIOS AMIGOS
http://sabordabeira.blogspot.com
http://animo.blogs.sapo.pt
http://aaavd-armindocachada.blogspot.com
http://aaacarmelitas.blogspot.com/
http://irmaosol.blogs.sapo.pt
http://arm-smbn.blogspot.com/