O seminarista
Na última semana tive de me conter para não escrever contra um livro que tinha acabado de ler. Passara pela livraria e, ocasionalmente, os meus olhos tropeçaram no livro: O Seminarista de Francisco Freire. O subtítulo acrescenta: a história verdadeira de um rapaz num seminário. A capa chama a atenção para revelações inéditas e chocantes. A contracapa esclarece: «Este livro é um testemunho. Não é o retrato de todos os seminários, felizmente, mas sim a súmula de crimes hediondos. Nesta narrativa não serão identificados os locais, nem as suas personagens terão nomes reais. A denúncia personificada é substantivamente frágil e passível de castigo, num mundo tão poderoso como é o mundo da Igreja. Nem tão-pouco o nome do seu autor será objecto de publicação. O importante é a história que aqui se narra. Julgue-a o leitor.»
Ao contrário de uma outra obra sobre o mesmo tema, mas passada num ambiente anglo-saxónico (O Rapaz do Seminário), escrita pela mão de um mestre, que me suscitou curiosidade e a convicção de que os factos narrados não poderiam ter ocorrido nos seminários que frequentei; este livro causou-me uma certa revolta. Não há mestria na escrita e, apesar de não querer revelar lugares nem pessoas, facilmente identifiquei o seminário menor de Braga o bispo, principal responsável moral pelos crimes mais graves descritos. A entrada do autor no seminário é pouco posterior à minha (1961).
A pergunta que me acompanhou ao longo da leitura: «como era possível, naquela época, existirem ainda seminários tão «atrasados», fechados naquela, a funcionar daquela forma e onde tais factos fossem possíveis? O autor, considera, que o livro é apenas e só «um testemunho e não o retrato de todos os seminários», mas mesmo assim a gravidade do narrado é tal que ultrapassa o admissível e até o verosímil. Felizmente este testemunho, sem questionar a veracidade dos factos, será uma excepção.
Por outro lado, parece-me que o autor não resolveu ainda dentro de si os traumas que as vivências lhe causaram. Foi incapaz de um certo desfasamento / distanciamento e até anacronismo que a leitura do presente exige. Na leitura do que nos é contemporâneo, se coincidirmos 100% com o nosso tempo ficamos cegos para muitas dimensões da realidade que nos são menos evidentes. O livro é pobre por essa linearidade de leitura fácil, exagerada e chocante de alguns factos. É verdade que reconhece a existência de algumas pessoas que são verdadeiros marcos de humanidade e de referência. Todavia, há um verdadeiro desequilíbrio em relação à vida num seminário. Além disso considero este livro oportunista. O facto de as questões ligadas à sexualidade e aos abusos por parte de alguns clérigos ocuparem os meios de comunicação social nos últimos tempos não dá mais credibilidade à narrativa.
Concluindo, se eu pelo contacto que tive com seminaristas de outras dioceses e ordens religiosas já tinha me tinha convencido que tive a sorte de frequentar um seminário bem humano, aberto e bastante arejado. Agora, após a leitura deste livro, só posso exclamar: Graças a Deus que frequentei os semanários desta diocese onde tais coisas não existiam e nem era possível existirem. Estou grato a todos os que tornaram isso possível. Só seminários assim permitiram ao António «Henriquesser».
É por isso que no dia 16 de Maio em Abrantes, apesar de os inscritos serem meia dúzia, espero poder contar mais de uma centena de ex-alunos dos nossos seminários. Inscreve-te!
Mário Pissarra
NOTA
Ontem mesmo gravei uma saborosa conversa com o Mário na serenidade do Pinhal de São Lourenço.
A velocidade da rede, algures por Mação, não me permite fazer o download em tempo útil como desejaria.
No regresso à fibra óptica montijense tal se procederá.
Para todos Santa Páscoa!!!
antónio colaço
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